ACASALAMENTO CONSANGUÍNEO

Revista COPC-2001-V .Exposição

A utilização de consangüíneos é uma prática comumente utilizada na apuração ou aperfeiçoamento de todos os animais, criados pelo homem. Normalmente os machos de qualidade excepcionais são utilizados para e acasalamentos consangüíneos criar famílias onde se tem por objetivo incluir em todos os seus componentes as qualidades do citado reprodutor.

Com cavalos das diversas raças, gado vacum, porcos, mamíferos em geral e aves, tal prática foi intensamente utilizada pelos grandes criadores do passado mesmo sem conhecimentos de genética, que hoje já bastante desenvolvida torna fácil comprovar a eficiência deste processo.

Em todos os centros ornitológicos tal prática é bastante difundida, mas no Brasil, não sé se tira proveito destes acasalamentos como também evita-se por desconhecimento e até por preconceitos religiosos.

Em canaricultura no que se refere aos canários de porte tal prática só trará benefícios, mas os criadores ainda não a aceitam, olhando apenas o lado deficiente do processo, esquecendo de que muitas vezes os acasalamentos entre pássaros não consangüíneos resultam em completa desilusão.

Quantos criadores, gastaram somas fabulosas adquirindo campeões, acasalando-os e obtendo apenas filhotes medíocres?

O motivo principal a nosso ver, porém é simplesmente a ânsia de obter de primeira temporada, isto é, da maneira mais rápida possível, pássaros de qualidade, o que na maioria das vezes não acontece.

A utilização dos acasalamentos consangüíneos requer além de conhecimentos, paciência e perseverança, mas os resultados após alguns anos compensam o tempo perdido, a proporcionarem aos verdadeiros amadores a satisfação de ter criado uma família onde a totalidade dos componentes apresentam as características do Standard da raça.

Porque a vantagem de tais acasalamentos? A genética nos responde.

Hoje sabemos que cada espécie animal tem uma característica que é o número de cromossomos de suas células.

Nossos canários possuem 9 (nove) pares de cromossomos maiores (macrocromossomos) e um número indefinido de pares de microcromossomos. Cada um destes cromossomos possui genes que são os responsáveis pela expressão das características dos indivíduos, como acontece com os diversos genes que comandam as cores dos canários, hoje já bastante difundidos.

Por ocasião da divisão celular que antecede a formação dos gametas masculinos (espermatozóides) e feminino (óvulo) os pares cromossomos se separam e assim cada gameta, em uma explicação simplificada, possui apenas a metade do número de cromossomos da célula original.

Assim sendo, cada novo indivíduo recebe ao se formar um conjunto de cromossomas do pai e outro da mãe e assim no novo ser é restabelecido o número de cromossomos da espécie.

Neste novo ser, os pares de cromossomas são reconstituídos e de acordo a predominância ou não entre genes para uma mesma característica esta poderá se expressar ou não.

A antiga e ainda usada expressão “meio sangue” significa em termos reais que o indivíduo possui metade dos cromossomas, por exemplo de seu pai, um puro sangue e metade correspondente a herdada de sua mãe sem as características da raça considerada.

Cada característica é comandada por um gen ou genes e, em um canário além dos genes que determinam a cor que apresentará o pássaro, outros há que determinam seu tamanho, a forma de sua cabeça, tamanho do bico, posicionamento da perna e um sem número de características que definem um pássaro de determinada raça ou cor.

É preciso esclarecer, porém, que a metade dos genes herdada de um reprodutor se refere ao número de cromossomos e que somente em indivíduos homozigotos para todas as características (caso pouco provável em canário de porte) todos os gametas serão idênticos. O que normalmente acontece é que os indivíduos não são homozigotos e nada impede que um pássaro excelente, possua em seu patrimônio genético, características deficientes recessivas que serão transmitidas a seus descendentes.

Se acasalamos um pássaro excepcional a um de suas filhas de boas características, as chances de produzir pássaros semelhantes ao reprodutor original é muito maior do que se utilizar-mos uma fêmea não relacionada com ele, pois sua filha possui em suas células metade dos cromossomos do seu pai, tornando mais fácil a reconstituição do patrimônio genético original do reprodutor em alguns dos filhotes.

De modo idêntico que as características que definem a raça a saúde, robustez, fertilidade e outras podem ser manipuladas de modo a se conseguir melhorar ou manter tais funções.

Dentre os acasalamentos consangüíneos podemos distinguir dois processos: INBREEDING, onde os acasalamentos são feitos entre parentes próximos por exemplo, pai x filha, mãe x filho, meio-irmão x meio-irmão, avô x neta etc...


LINE-BREEDING, onde os acasalamentos são feitos entre parentescos mais afastados.


IN BREED TO SUCESS

Com este título o articulista de Cage and Aviary Birds, Brian Biles publica excelente artigo sobre o sucessoobtido pelo Dr A.R.Robertson, de Durban, África do Sul, na criação de periquitos australianos.

Os comentários do articulista inglês, fotografias dos pássaros e referências de outros criadores não deixam dúvidas quanto a qualidade dos ondulados do Dr Robertson, considerados tão bom ou até melhores que os melhores periquitos ingleses.

Utilizando como guia um pequeno livro INBREEDING BUDGERIGARDS, de autoria do Dr M.D.S. Armour, publicado após a 2a (segunda) Guerra Mundial e conhecimentos de genética que possuiu, desenvolveu seus programas e este ano recusou por um dos pássaros a soma de 1.000,00 (mil libras) preço considerado lá extraordinário.

Seus pássaros são mantidos em famílias ou linhas e os acasalamentos feitos de acordo com as características visuais dos pássaros e seus pedigrees.

Seu plantel é todo relacionado e se levarmos em consideração que de 1969 a 1979 foi proibida a importação de psitacídeos na África, o grau de relacionamento é bastante aproximado.

Segundo o autor do artigo, dificilmente introduz pássaros não relacionados no plantel e uqnado o faz é através de um macho, de boas características que no primeiro ano é acasalado com duas ou mais fêmeas.

No segundo ano utiliza o macho com duas ou três fêmeas de suas melhores filhas ao mesmo tempo que acasala vários pares de meio-irmãos. Destes acasalamentos já consegue 30% (trinta por cento) de pássaros de qualidade tão boas ou superiores ao reprodutor inicial.

No terceiro ano os melhores filhotes do reprodutor são acasalados aos melhores dos acasalamentos entre os meios irmãos e o reprodutor original a duas de suas melhores netas e a parcela do pássaro de qualidade ultrapassada já aos 50% (cinqüenta por cento).

Outro ponto importante do artigo é que a cada indivíduo excepcional que surge uma nova família é iniciada tendo este como fundador e o mesmo processo desenvolvido paralelamente.

À atuação deste criador, como acontece com grande freqüência fora de nosso país, no que se refere às aves, é um dos muitos que podem seer citados como exemplo dos acasalamentos consangüíneos para melhorar as características de uma variedade.

Os resultados não são imediatos. Mas observadas as regras e uma seleção apurada, em três ou quatro temporadas no máximo, o criador poderá tornar seu plantel homogêneo para as características do reprodutor inicial.

Os acasalamentos consangüíneos podem nos conduzir a resultados excelnetes desde que sejam feitos judiciosamente. Tentar utiliza-los com pássaros que possuem características desejáveis é simplesmente perda de tempo.